sábado, 5 de outubro de 2013

POETAS NASCEM POETAS (O DOM DA POESIA)


   Se o dom da poesia não vier da alma, por mais que uma pessoa seja culta ou tenha um vasto conhecimento sobre diversas áreas, ainda assim, não irá compreendê-la a ponto de amá-la. Poetas nascem poetas, mas só com o passar do tempo descobrem a poesia inerente na alma, que inefavelmente vai se revelando, gradativamente, quase imperceptível, até que, a poesia lhe abrace e lhe envolva por completo e, assim, queira externá-la e exprimi-la, seja da forma que for. A poesia é atemporal, no olhar receptor e n’alma transmissora do poeta; em um toque ou em um aperto de mão; no aconchego de um abraço caloroso; no encontro de dois olhares que se alheiam ao mundo ao seu redor. O dom da vida e o dom da poesia se entrelaçam, se confundem, são irmãos, vem do mesmo berço, nasceram do seio do eterno.

   Poetas nascem poetas e as suas poesias nem sempre são as da literatura, os seus poemas nem sempre são encontrados em livros ou bibliotecas, isso é apenas parte do que eles conseguem expressar. A poesia transcende a escrita e as palavras, e a vida é repleta de retratos poéticos onde o olhar apurado do poeta, raramente, deixa passar despercebido. Há poetas que não sabem que são poetas, pois o ser poeta é um estilo de vida. Não precisa, necessariamente, saber ler ou escrever pra ser poeta. A poesia se revela de relance, simples e espontânea. Difícil dizer o que não é poesia na vida e que o coração do poeta, inexoravelmente, inexplicavelmente insiste em subentendê-la.  

   A poesia é a própria vida do poeta, um reduto da liberdade n’ alma, entranhável no mais profundo do seu ser. A poesia, amorosamente, acalenta o coração humano, e, ao adentrá-lo, torna-o mais amável. Seja na loucura ou na lucidez do poeta, lá está a poesia; no sorrir e na dor enxerga, extrai e lapida a poesia; no lacrimejante olhar, nas lágrimas a cair não deixa de ser mais poesia na sua vida. No olhar poético vislumbra a poesia, onde os normais enxergam apenas o superficial; na observação da vida, contempla o belo, o singelo, sabe que a poesia às vezes se encontra camuflada nos pequenos detalhes do cotidiano. Poetas sabem que a poesia é vida com toda complexidade, com toda exuberância e com toda profusão de vida. 

Rikardo Barretto Poesia e imagem Todos os direitos reservados ©



sexta-feira, 20 de setembro de 2013

ABRAÇO DA NOITE

Sinto-me em mim,
No abraço que a noite,
Ternamente, me dar.
No seu seio cheio de mistérios,
Resvalam as horas
E traz a plácida madrugada
Imensa de enigmas e riquezas...
Tal é o silêncio
- Ouço meus pensamentos
Em um sobre-humano
E atemporal instante
(Como névoa da aurora
Aureolando meu olhar
A vê-me, a mim mesmo,
Em profícua e recrudescente reflexão)
Vejo-me em mim,
Ora instável, ora absoluto.
Em um retrato lancinante
E abstrato do meu ser interior.
No noturno momento,
 no ardor de tal abraço
Vocifera a solidão 
Em rio transbordante,
Em correntes de melancolia e tédio.
E os audíveis e os quase 
Imperceptíveis sons da noite
Vibram, dispersam-se...
Transpõem os campos 
E os montes e enredam-se,
Perspectivam-se 
Inerentemente arrefecidos
Sobre a imensidão de lúrido horizonte.
E nesse amplexo complexo
Contemplo os céus, 
Miro o longínquo.
Vejo as raízes etéreas 
Das cintilantes estrelas
Arraigando-se no solo do meu coração

Rikardo Barretto






quinta-feira, 9 de maio de 2013

NOITES DE OUTONO II

No transitório silêncio
Em minha'alma
À mercê do tempo e das horas 
Porém ao meu bel-prazer
Arrebatado sou no regaço da noite
Aquém de devaneios 
De um sobre-humano olhar
Além de desvairados pensamentos
Sob o fulgor das estrelas
E do luar de outono
Desentranho-me em meus intrínsecos
Segredos e mistérios
Envolvendo-me, 
Abraçando-me a noite
Nas suas reentrâncias inefáveis 
Eleva-me a incertos desígnios 
E ensina-me sem qualquer palavra
No voo do pássaro noturno
Nos campos cobertos pelo breu
De mais uma noite de outono
Avisto ao longe
No horizonte quieto
O lume translucido das luzes 
Da cidade
Tácito as observo
E assim fico por um certo tempo
inebriado e extasiado 
No tempo unânime e atemporal
No mais simples momento
De estimável valia 
Nessa cadência
Meus pensamentos vão sendo
Lavrados no absoluto
Silêncio da noite


segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

O Silêncio do Poeta

O que diz o silêncio do poeta,
Seu olhar sereno e sua mão tão quieta?
Como subentender esse olhar
A mirar estrelas e ainda se calar?

Seus lábios balbuciam a melancolia 
E assim seu coração se volve noite e dia
Como náufrago no mar da solidão
Rebusca o lancinante alento para o coração

Em meio a dor, a desilusão e ao desalento
Por instante esquece tudo e a poesia é seu acalanto 
Sabe que pode rir e pode chorar
Mas sua canção vai lhe acompanhar